Olho o horizonte, a paisagem acalma-me. Nem dou pelo passar das horas quando me sento na varanda, na cadeira de baloiço, a ver o que vai. As árvores, as flores do caminho, as pedras da calçada. Um lugar tranquilo, o meu porto de abrigo. Consigo ouvir o chilrear dos pássaros. Temos um lago na frente da nossa casa. Tu sabes que gosto de gansos. E de patos. Todas as tardes, antes de saíres, vais dar-lhes comida. Eles juntam-se e eu fico ali, somente a admirá-los. Deixo-me estar ali, embalada pelo baloiçar da cadeira, durante horas. Páro por uns instantes. Reparo nas mãos velhas, cobertas por rugas. Continuam bonitas, os dedos continuam longos e as unhas bem tratadas. Mas estão velhas. Passo uma mão pelo cabelo, outrora castanho. Agora é branco e está preso por um gancho. A vida soube-me bem. Acho que sim. Soube vivê-la a teu lado. Com altos e baixos, com momentos melhores e momentos piores, mas soube vivê-la. Um amor mais calmo, naturalmente. Mas nem por isso menos bonito. Tu chegas. Pass