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O parto! #2


Quando entrei na sala de partos, continuava calma, apesar das dores imensas. Tudo me pareceu uma experiência meio irreal, como se fosse um filme. 

Felizmente, chamaram logo a anestesista, ao verem as minhas dores intensas. A profissional foi cinco estrelas, explicou-me tudo, com muita calma, sempre tranquila. Primeiro o frio da desinfectar a zona, depois a pica, depois ficar "muito quieta, mesmo que venha uma contracção" para inserir o catéter da epidural, depois uma pressão para ajustar o mesmo ao meu corpo. Custou-me, não vou mentir. Não foi dor, mas sim um nervosismo imenso por me estarem a mexer na coluna e não me poder mexer ao longo do processo (que é curto, mas naquela altura parece longo).

A partir daí, oh minhas amigas... Não há comparação possível. Tive mais 8 horas pela frente, mas sem dor. Claro que se sentem as contracções, mas não é propriamente dor. Quando comecei a sentir dor, aumentaram-me a dose. Nesse aspecto, o Hospital de Viana foi impecável - epidural do princípio ao fim, sem stresses. Profissionais sempre atentos e amigos.

Tivemos de esperar mais de cinco horas até a dilatação estar quase feita. O mais-que-tudo ainda teve algumas dúvidas de que aguentaria toda aquela pressão, mas acabou por se portar da melhor forma possível. Optei por me abstrair do mundo, não falei com ninguém, nem olhei para o telemóvel. Fiquei só ali com o meu companheiro - bom, a minha mãe conseguiu vir visitar-me cinco minutinhos e acho que estava mais nervosa do que eu. Claro que ao ver o nervosismo dela também comecei a choramingar, mas logo consegui voltar ao meu estado "zen".

Pelas 16 horas deram-me indicação para começar a "puxar". E eu puxei. "Sócio, estou concentradíssimo", como diria o Paulo Futre. Meti na cabeça que tinha de fazer aquilo para ter o meu bebé e entrei em piloto automático. De cada vez que começava a sentir uma contracção, avisava o mais-que-tudo, ele olhava para o monitor (que controlava tensão e batimentos cardíacos) e ele lá me incentivava a aguentar "mais uns segundos". Ainda lhe dei um ou dois gritos quando me disse que não estava a esforçar-me ao máximo, mas fui uma grávida praticamente muda. Nem um "ai" saiu da minha boca.

A última hora foi qualquer coisa de surreal. O médico que me fez o parto é um verdadeiro anjo. Jovem, sorridente, uma simpatia. Estava atarefado (julgo que nasceram seis bebés naquele dia) e a fazer dois partos ao mesmo tempo - o meu e o de outra senhora -, mas sempre divertido e compenetrado. A enfermeira Paula foi uma querida, a passar-me compressas de água fria na testa, a tocar-me o rosto, a fazer-me leves massagens nas pernas. Uma santa. A doutora Joana e uma outra enfermeira cujo nome não consegui decorar completavam o ramalhete. Eu e mais quatro, todos na mesma luta.

Tudo parecia estar a correr bem, até que perceberam que quanto mais eu puxava, mais o bebé regredia. Quando mais eu fazia força para ele sair, mais o bebé subia na minha barriga. Não estava a funcionar. Eu já estava esgotada, o médico já não queria adiar mais (a bolsa de águas já rebentara pelo menos 10 horas antes) e teve de executar a manobra de Kristeller. Ainda bem que assim foi, caso contrário ainda podia estar na sala de partos a esta hora.

O mais-que-tudo diz que a última hora parecia um filme de terror - e eu confirmo. A minha cama elevada, o médico em cima de um escadote, com o braço em cima da minha barriga, a fazer uma força descomunal (mas eu não sentia dor e não fiquei pisada ou magoada, ele sabia  o que fazia...) e a pedir para eu puxar. E eu puxei, puxei, puxei. Depois ainda ponderaram usar outros métodos, mas sinceramente nem consegui perceber se o fizeram ou não. Só sei que, com a ajuda do médico, finalmente comecei a sentir que o parto estava a avançar. Já não sentia que fazia força em vão.

De repente, em mais uma puxadela, o bebé saiu. Pufff, assim Simplesmente saiu. "Parabéns, mamã. Parabéns". Toda a equipa a felicitar-me, contentes, o mais-que-tudo radiante e a espreitar para ver o bebé. Eu já nem via nada. Eu não queria saber de nada. Chorei e chorei, durante longos minutos. Chorei e solucei de alívio. Tinha conseguido.

Comentários

  1. Que bom que tiveste um parto fantástico! :) Correu tudo o melhor possível dentro das circunstâncias e parece-me que o pessoal médico ajudou bastante.
    É muito importante ter estas experiências positivas para equilibrar todas as outras que não são tão positivas e que acabam por ser as mais divulgadas (como o meu primeiro parto). Muitos beijinhos e felicidades

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    1. O pessoal do Hospital de Viana é considerado excelente e eu só posso confirmar. :)

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  2. Nunca passei por isso, o meu pequeno saiu de cesariana e nem tive contracções muito tempo. Confesso que me assusta um bocadinho! Mas acredito que ter uma boa equipa a apoiar-nos seja meio caminho andado.

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  3. Parabéns pela chegada do Rafael. :) Mas admito que ao ler estes relatos me apercebo que tive realmente um parto muito fácil e perco ainda mais a vontade de me meter noutra não vá correr de forma diferente. :P
    (mas eu fui o oposto de ti num ponto: nada calma até à epidural. Entrei em histeria absoluta, uma vergonha. E não senti a epidural ser dada, depois disso até dormi de tão calma que estava. :P)

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    1. Tété, eu estava absolutamente calma, de verdade... e só não adormeci depois da epidural porque não quis dormir. ahah

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    2. Sim, sim, eu percebi e acredito. No meu caso, entrei mesmo em pânico e em histeria por causa das dores. Achei que ia estar horas naquele sofrimento ou pior e não consegui lidar com isso. Se soubesse que me iam dar a epidural à hora que deram não teria feito nem metade da figurinha triste que fiz. :P Depois da epidural voltei a ser uma pessoa normal e zen. :P

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    3. Sim, sim, eu percebi e acredito. No meu caso, entrei mesmo em pânico e em histeria por causa das dores. Achei que ia estar horas naquele sofrimento ou pior e não consegui lidar com isso. Se soubesse que me iam dar a epidural à hora que deram não teria feito nem metade da figurinha triste que fiz. :P Depois da epidural voltei a ser uma pessoa normal e zen. :P

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    4. ahahah Tal e qual. Eu também me senti algo "paniquenta" quando comecei com as contracções muito fortes... se soubesse o que a epidural aliviava, teria aguentado bem melhor!

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  4. Ainda bem que correu tudo bem. Acredito que jamais esquecerás esse dia e fico, sinceramente, feliz por vocês.

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  5. Isso da manobra de Kristeller é que não me agrada nada :-/ A tua irmã também precisou, não foi? Creio ter lido isso na altura.

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    1. Sim, precisou... mas julgo que "apenas" porque ela estava já esgotada de forças para puxar.

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  6. Ola parabens pela chegada do bebe Rafael! Ja o vi no instagrama e so posso confirmar que é mesmo muito fofo! Pois a minha experiencia nao foi tao calma! A minha filha saiu de cesariana de emergencia mas nao sem antes me dar 9h de contracoes de 2 em 2 min! eu fiz o parto todo sem quimicos até ao momento em que ela teve mesmo que sair e me deram uma "spinal block" como anestesia! E antes que pensem que eu sou a moda antiga nao é nada disso! Nao tomei nada pq infelizmente tenho muitas alergias e foi decidido que era melhor nao tomar a nao ser que fosse uma emergencia! No fim ela estava bem e eu tive uma recuperacao rapida! Fico sempre feliz de ouvir estorias bem mais simples que a minha! faz-me ter vontade de ter outro bebe! (peco desculpa pela falta de acentos e cedilhas mas é um teclado ingles e só me deixa por alguns!) beijinhos

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  7. Não deve ter sido fácil...mas valeu a pena!

    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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  8. Até me arrepiei ao ler a sua descrição. andei 20 anos atrás, com uma parteira literalmente deitada em cima da minha barriga!! mas sem epidural e a parir um buda de 4,100!! E tenho realmente pena de naquele tempo não existir (ou exista sim, mas não no hospital de Portimão) a epidural para poder desfrutar do momento em pleno. Parir sempre foi a coisa mais natural da humanidade (senão o ser humano não teria chegado até hoje) mas crio para mim que a epidural foi das melhores invenções dos ultimos tempos!!!

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    1. Se chegasse o final do tempo, também teria um buda de 4 quilos, certamente. ahah

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  9. Pensava que essa manobra era considerada abusiva...

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    1. Sim, é. Mas há casos e casos, digo eu. No meu caso, não estou a ver de que outra forma o bebé saía... :)

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    2. Eu acho que se por um lado há excesso de cesarianas no privado, no público parece que fazem de tudo para não a fazer... Se calhar até seria o o mais adequado no teu caso. E coincidência ou não, também a fizeram à tua irmã, se calhar é prática comumm nesse hospital. Ele aí dentro é que não ficava :-P

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    3. Catarina, não creio, de verdade. O bebé não estava em sofrimento e eu também não. A parte do "puxar" foram cerca de 2 horas... :)

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    4. Então mais um motivo para não terem de recorrer à manobra, que como sabes é considerada uma forma de violência obstétrica no parto. Mas isso agora não interessa, ele já está cá fora e vocês estão ótimos. Muitas felicidades para os três.

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    5. Catarina, não concordo. Desculpa, mas se o bebé estava a "inverter" a ordem do parto, não estou a ver como poderia sair de forma natural. No entanto, como disseste, já não importa. :) Obrigada!

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  10. São momentos que nunca mais esquecemos. :) Dar vida!

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  11. Eu só de pensar ver o médico em cima do escadote até me benzo mas fico muito feliz que no fim tenha tudo corrido plenamente bem! Felicidades!

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  12. Olá S. Tenho duas perguntas (não sou mãe, mas penso "e quando for eu?"):
    - Não é normal ter-se muuuita vergonha, estar ali de pernocas abertas durante horas com tanta gente a olhar? lol
    - Mesmo com a epidural, não sentimos o bebé a sair? :S

    Obrigada :)

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    1. ahah Na verdade, na altura nem se pensa nisso... é um processo muito natural e os profissionais estão mais que habituados.

      Sim, sente-se o bebé a sair... mas é apenas sensação, não dor. :)

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  13. Não deve ter sido fácil, mas valeu a pena :D

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  14. Foi legal, né?! 0 meu foi um terror na grande sala cheia de gritos e o médico debochado dizendo que "na hora de fazer foi bom, reclamam que nunca mais e ano vem tão tudo aqui novamente!" Ele foi bastante xingado ali...
    Foi uma enfermeira de alma caridosa que me falou como fazer!

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  15. Eu confesso que tenho pânico da hora do parto, não sou mãe, não estou grávida e é daquelas coisas que me deixa a tremer só de pensar, sou muito medricas. E agora que li que o catéter fica na coluna, até me benzi, que medo. :)
    Mas que bom que tudo acabou por correr bem, parabéns e as maiores felicidades para esta fase.

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  16. Até chorei com a tua descrição. Somos, nestas horas, umas mulheres valentes. Parabéns para ti.

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  17. Sei que esta coisa do "pavor do parto" nos passa com o decorrer da gravidez, pelo menos é assim que amigas minhas falam. No entanto, não deixo de ter um certo receio. A dor enorme, algumas mas experiências que conheço. Não deve ser fácil, mas o final é feliz.
    Não pode ser algo tão mau que não se esqueça, já que tantas mulheres vão há 2a, 3a, 4a é mais gravidezes...!
    Beijinho
    Muitos Parabéns
    Marta
    @sagadaemigracao

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