"A minha mãe é a minha filha. Preciso de lhe dizer que chega de bolo de chocolate, chega de café ou de andar à pressa. Vai engordar, vai ficar eléctrica, vai começar a doer-lhe a perna esquerda.
Cuido dos seus mimos. Gosto de lhe oferecer uma carteira nova e presto muita atenção aos lenços bonitos que ela deita ao pescoço e lhe dão um ar floral, vivo, uma espécie de elemento líquido que lhe refresca a idade. Escolho apenas cores claras, vivas. Zango-me com as moças das lojas que discursam acerca do adequado para a idade. Recuso essas convenções que enlutam os mais velhos. A minha mãe, que é a minha filha, fica bem de branco, vermelho, gosto de a ver de amarelo-torrado, um azul de céu ou verde. Algumas lojas conhecem-me. Mostram-me as novidades. Encontro pessoas que sentem uma alegria bonita em me ajudar. Aniversários ou Natal, a Primavera ou só um fim-de-semana fora, servem para que me lembre de trazer um presente. Pais e filhos são perfeitos para presentes. Eu daria todos os melhores presentes à minha mãe.
Rabujo igual aos que amam. Quando amamos, temos urgência em proteger, por isso somos mais do que sinaleiros, apontando, assobiando, mais do que árbitros, fiscalizando para que tudo seja certo, seguro. E rabujamos porque as pessoas amadas erram, têm caprichos, gostam de si com desconfiança, como creio que é normal gostarmos todos de nós mesmos."
Este texto do Valter Hugo Mãe é de uma ternura imensa. Dos textos mais emocionantes que li nos últimos tempos. Os "velhos" não são velhos como os trapos. Os "velhos" foram os braços que nos embalaram, os beijos que em nós depositaram, os olhos que nos amaram, os cuidados que nos protegeram. Quem cuidou de nós quando éramos bebés, merece ser cuidado com o mesmo amor com que se cuida um bebé... quando chegar a velho.
Lê a Máquina de Fazer Espanhóis, dele. Foi dos livros mais tocantes que li, precisamente por se focar na terceira idade. Houve mesmo uma passagem em que tive de parar a leitura para pensar que era a constatação mais triste que já tinha lido.
ResponderEliminarVi o e ouvi-o nas correntes de escrita na povoa há uns anos e gostei muito dele :) É ternurento , romantico, nostalgico e cómico como a situação que ele contou quando foi a Paris e viu gente fora da loja aos berros e ele a pensar " porra tou a ficar mesmo conhecido" e afinal era a Mariah Carrey que estava ao lado dele :)
ResponderEliminarConcordo plenamente....só não critico quem não o faz porque nem todos os pais cuidaram dos filhos nem foram PAIS...
ResponderEliminarPor vezes a vida faz com que nós nos esqueçamos do que é importante, como cuidar de quem cuidou de nós!
ResponderEliminarMuito, muito bonito :)
ResponderEliminarUm texto delicioso :)
ResponderEliminarUm texto muito bonito :)
ResponderEliminarWomen's Stuff
Que amor! *-*
ResponderEliminarhttp://www.jj-jovemjornalista.com/
Digo tantas e tantas vezes á minha mãe "Pareces minha filha"! :)
ResponderEliminarTão bom. Um dia destes escrevo sobre isso. Sobre este amor maior que lhe tenho de a proteger.
Lindo :)
ResponderEliminarGostei muito... :
ResponderEliminar)
Uau. Obrigada por partilhares.
ResponderEliminarAdorei o texto, conheço pouco o trabalho dele mas passei a ter curiosidade em conhecer melhor. Concordo com ele, e as pessoas mais velhas que admirei em criança sempre foram vanguardistas usavam roupas modernas e cores leves que lhe atenuavam o tempo da idade.
ResponderEliminarQuando vou ás compras com a minha Mãe tenho as mesmas tendencias que ele tem e concordo plenamente que todos os motivos são validos para se presentear alguem de quem se ama ou gosta. Se eu tivesse dinheiro dava muitos miminhos porque motivos eu tenho sempre. Obrigada por me dares a conhecer esta faceta dele. :)
concordo!!!
ResponderEliminarGostei muito.
ResponderEliminarMaria
Simplesmente fantástico, um texto extraordinário!
ResponderEliminarhttp://ummarderecordacoes.blogs.sapo.pt/
As leituras permitem-nos descobrir imensa ternura:)
ResponderEliminarMuito bom mesmo :)
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