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Dos Filhos

A propósito do triste desfecho do Julen, revolta-me perceber que há tanta gente que adora atirar pedras para o ar, ignorando os seus telhados de vidro.

Com a maternidade, só vim confirmar que não existem mesmo verdades absolutas.

Podemos fazer tudo supostamente bem e ter maus resultados... Ou fazer tudo supostamente mal e ter bons resultados. Muitas vezes, temos apenas Sorte. Ou Azar.

"Os pais foram negligentes", já li por aí em diversas caixas de comentários.

Acaso saberão quão fácil é uma criança tirar a mão e fugir? Acaso conseguirão imaginar que nem sempre (ou quase nunca) é culpa dos pais?

Refiro-me a este acidente infeliz que roubou a vida ao menino espanhol mas podia falar de qualquer situação da rotina normal de um casal com filhos.

Sim, eles tropeçam e caem sem termos tempo de segurar.

Sim, eles esticam as pernas, fazem pressão na mesa da cozinha e conseguem atirar a cadeira de papa ao chão. Esta já aconteceu cá em casa.

Sim, eles estão a brincar livremente e conseguem tombar para cima da única esquina de móvel disponível.

Sim, eles engasgam-se com comida e não é porque os bocados eram demasiado pequenos ou demasiado grandes.

Sim, eles tombam na banheira durante o meio segundo em que esticamos o braço para apanhar a toalha.

Sim, eles conseguem cair da cama, mesmo com barreiras protectoras.

Sim, eles vão sempre ter tendência a deitar a mão à sacaninha da faca que ficou esquecida por uma mera distracção em cima do balcão. Felizmente, nunca me aconteceu.

Sim, eles metem tudo à boca, incluindo o brinco que acabou de cair da mão da mãe e que ela nem teve hipótese de apanhar antes que as pequenitas mãos dessem por ela.

Os pais não têm de ser negligentes. Não têm de ser desatentos. Os acidentes acontecem a todos e custa-me ler e ouvir gente a dizer "isso comigo nunca aconteceria". Pode acontecer. A qualquer um.

Aqui há uns meses fiquei mesmo surpreendida com a quantidade de mães que assumiram que o bebé já lhes tinha caído ao chão (num post do Facebook d'A Maçã de Eva, creio).

Fiquei genuinamente surpreendida, porque tal nunca esteve sequer perto de acontecer cá em casa. Mas se julgo? Claro que não. Comigo já aconteceram certamente muitas outras coisas que outros pais nem conseguem imaginar.

Menos julgamentos, por favor. A maioria dos pais é mesmo o melhor que consegue ser.

Comentários

  1. Um post sensato, e partilho da opinião
    Não dá sequer para imaginar a dor daqueles pais
    E para todos os revoltados da blogosfera: saibam que aqueles pais decerto estão ainda mais revoltados consigo próprios por terem deixado isto acontecer, sabendo todos que a culpa nem foi deles. Mas eles sentem e vão ter de (sobre)viver com este sentimento: "E se..."
    Muito triste

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  2. Tenho muita pena do que aconteceu.
    Já eram tantos dias, acho que mesmo só com um milagre :(

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  3. A mim caiu-me duas vezes da nossa cama quando era bebé (e nunca foi uma bebé mexida, olha se fosse!), já do muda-fraldas que era mais alto nunca aconteceu. Mas a "pior" que aconteceu foi no meu dia de anos, tinha ela 11 meses, sentadas no chão de tijoleira, uma à frente da outra a brincar, e ela simplesmente deixou-se cair para a frente sem pôr as mãos a amparar ou algo assim. Nunca mais esquecerei o barulho da testa dela a bater na tijoleira sem que nada tivesse abrandado o movimento. O barulho foi tal que acordou o pai (que nunca acorda com nada), que dormia noutra divisão de porta fechada. Andou com um galo enorme durante uns dias, com a testa negra e eu sei que não havia nada que eu pudesse fazer para evitar aquilo porque ela estava sentada à minha frente, comigo concentrada nela, não me distraí, nada de nada.
    E ontem enquanto lia a notícia sobre terem encontrado o menino, a Mini-Tété decidiu acordar e atirar-se da cama abaixo, abrindo um lábio. Sobe e desce daquela cama sem problemas nenhuns mas ontem falhou qualquer coisa quando decidiu descer...
    Do que li não acho que os pais tenham sido negligentes. Acho que tê-lo-iam sido se soubessem que estava ali um buraco daqueles aberto e deixassem o menino brincar livremente na zona, porque aí era mais fácil adivinhar que um acidente poderia acontecer. A mim custa-me muito pensar como é que eles se devem sentir perdendo num ano e meio, dois filhos tão pequenos. É de uma brutalidade tão grande, é de uma injustiça tão grande...Olha, que a minha filha caia muitas vezes sem grandes mazelas e até que abra o lábio a cair da cama, que comparada com aqueles pais, eu serei sempre uma mãe de sorte.

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  4. Sou Educadora e apesar de estar atenta a tudo (e sempre com o coração nas mãos) há sempre aqueles segundos em que olhamos para outra criança e de repente alguém caiu. Às vezes vemos a acontecer mas nada podemos fazer. Quando trabalhei em ATL tivemos que ir com uma criança para o hospital porque abriu o queixo. Foi comigo e eu vi acontecer. Só não fui a tempo de o amparar. Acidentes acontecem todos os dias, a qualquer momento. Infelizmente não os podemos prever e na maioria das vezes não conseguimos evitar. No caso do Julen mesmo que os pais estivessem sempre a olhar para ele - sem nunca desviarem a atenção - não conseguiriam chegar a tempo de impedir a queda. O poço não deveria estar aberto e esse sim, foi o verdadeiro culpado. Nem consigo imaginar a dor daqueles pais.

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  5. É exactamente isso. Acredito que as pessoas que digam isso não são Pais. Acho que todas as pessoas que têm filhos sabem o quão rapido pode acontecer algo. Basta simplesmente um segundo para acontecer um acidente. Somos Humanos. as vezes mesmo estando ao lado deles e a ter cuidado pode na mesma acontecer algo!!! Não imagino a dor que os pais do Julen possam estar a sentir.

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  6. Não é suposto nós darmos liberdade às crianças? Estamos de olho nelas mas precisam de explorar o mundo sem que estejamos a 2 passos dela... Sem saber que havia um furo no terreno, o que fazia prever tal coisa? É incrível a facilidade com que as pessoas julgam... :(

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  7. Eu só não sei como se sobrevive a uma tragédia deste calibre.
    Eu acho que me suicidava se perdesse os meus filhos. A vida deixava de fazer sentido.. . Espero que eles consigam continuar com a vida deles.

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    1. A sua vida não tinha sentido antes de ter filhos?

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    2. É completamente diferente. Em primeiro lugar ter filhos sempre foi um objectivo de vida ao ponto de nem sequer considerar a hipótese de ficar com alguém que não quisesse ter pelo menos 2 filhos.

      Segundo, um filho muda radicalmente a nossa vida. E sim há coisas que não são para melhor e continuamos a ser uma pessoa além dos filhos. Mas o amor pelos filhos é algo completamente diferente, está muito acima do amor pelos pais, por exemplo.
      No geral jamais trocava a minha vida com filhos pela vida sem filhos.

      Se eu tivesse que decidir entre os meus filhos e qualquer outra pessoa no mundo não precisava de 1 segundo sequer para decidir. Imagine a dor de perder um familiar muito importante para si. Alguém que seja um pai /mãe para si ou os seus pais. Agora aumente essa dor por 100000 vezes ou mais.

      Quando o meu filho mais velho nasceu houve um momento em que pensávamos que ele iria morrer e a dor é indescritível. Nada neste mundo se compara ao amor que eu sinto pelos meus filhos e, apesar de ser muito feliz com o meu marido, não viver apenas em função deles e ter uma vida além deles... Se eles morressem tudo o resto deixava de fazer sentido. Nada iria ser suficiente para mitigar minimamente a dor.

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    3. Pois, é algo à parte, definitivamente. Eu não consigo imaginar amar alguém mais que a mim própria, portanto é-me impossível conceber não querer viver porque alguém morreu.

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    4. É isso mesmo anónimo das 21:30 antes de termos filhos não fazemos ideia do que isso é mas depois a sua perda é inimaginável...

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    5. Depois de ter filhos é como ter uma parte de mim, a mais importante, no corpo de outra pessoa. É o nosso coração que se transfere para outra pessoa.
      Se um deles morresse, morria uma parte de mim. Se acontecesse aos dois seria perder quem fui e quem sou. Nem consigo imaginar um cenário assim sem me virem as lágrimas. É desesperante...

      Eu adoro viver, não tenho tendências suicidas e tenho muitos planos de vida além dos meus filhos, para depois de saírem de casa e até para a reforma mas se eles não estiverem neste planeta vivos... Eu prefiro morrer do que viver com a dor.

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    6. Então os pais que perderam filhos( e são muitos),como não se suicidaram e continuam a viver,são maus pais?????

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    7. Não. São pessoas mais resilientes do que eu seria.

      Não coloque palavras na minha mão e não tente distorcer o que eu escrevi.

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    8. Nao e alguem, anonimo, nao e o padeiro la da esquina, pelo amor da santa, e seu FILHO, que saiu de dentro de voce. Faca um favor a si e ao mundo, nao tenha filhos. Claramente nao possuis amor suficiente para eles.

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  8. Palmas! Eu não consigo julgar uns pais que acabaram de perder um filho, a dor e a culpa já deve ser insuportável, não precisam de críticas!

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  9. Totalmente de acordo. Não sou mãe e daquilo que observo muitas mães têm posturas que não consigo perceber. Parece que têm uma necessidade de mostrar que são as melhores, as mais cuidadoras, mais atentas... existe uma competição para ver qual ganha o troféu de melhor mãe e isso ultrapassa-me. Salvo raras excepções e casos muito específicos, os pais são os primeiros a zelar pelo bem-estar dos filhos e a darem o melhor de si mas... acidentes acontecem. Menos julgamentos e mais empatia, sobretudo num momento de dor como este. Beijinho, Daniela Torres

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  10. Acho que só quem é mãe/pai consegue ver as coisas de uma outra perspectiva .

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    1. Não é verdade. Eu infelizmente não sou mãe, mas partilho da opinião da S* e chorei com este triste desfecho que me partiu o coração. Como alguém disse em cima, tenho a plena consciência que se fosse comigo, dificilmente conseguiria continuar a viver. Não pode haver dor maior, porque não haverá amor maior. Não sou mãe, mas sei o que é amar tão profundamente que a dor da perda é mais forte do que qualquer outra coisa.
      Bárbara

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    2. Nao percebi. O post da S* foi sobre as pessoas n acharem q foi negligencia. Acha entao q so os paus/maes percebem a situacao e q tdas as outras pessoas q nao têm filhos vao achar q a culpa é dos pais?

      Nao sou mae nem quero ser. Nao tenho a menor ligacao a crianças. MAS, ja vi o suficiente d como os miudos agem em publico p perceber q é impossivel controlar a 100%. Ja agora: é uma das mtas razoes pela qual n kero ter filhos: so o stresse de ter de andar sempre de olho e mesmo assim caem e magoam-se ou pior como aconteceu agora.

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  11. Se os pais têm alguma Culpa vai pesar na consciência deles para o resto da vida

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    1. Os pais podem não ter,mas o terreno era do tio da criança, não sabia que andaram lá a fã,er furos? Hoje ad notícias dizem que vai ser causado de nigligencia. Eu sempre li que a festa era num terreno de familiares! Coitado do bebê..
      😕

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  12. Concordo. Acidentes acontecem sem que os pais tenham culpa. Deixem-nos em paz a lutar contra a dor que deve ser perder um filho...

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  13. Também dou por mim muitas vezes a pensar como em muitos casos tudo se resume mesmo a uma questão de sorte :( o caso de Julen só veio dar mais força a esse pensamento... E nem sequer tenho filhos. Há coisas que não dá para controlar, pelo menos não "24/7". Neste momento é não julgar e só lamentar, e muito...

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  14. Se houve negligencia não sei...mas aquele furo não devia estar aberto assim...

    Isabel Sá
    Brilhos da Moda

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